Paixão
vem do verbo grego paskho e
significa, literalmente, sofrer. A noite em que Jesus Cristo foi martirizado e
crucificado é chamada Sexta Feira da Paixão.
Paixão
era o oposto do raciocínio e do autocontrole. Tradicionalmente considerada uma
fraqueza humana, que podia destruir vidas como em Romeu e Julieta e tantas
óperas.
O conceito só começou a ser aceito na civilização ocidental a partir do
século 12. Era espécie de inimiga do verdadeiro amor, concretizado no
casamento. Foi só no século 19, com o Romantismo,
que a paixão passou a ser considerada uma situação nobre, em contraposição à
frieza racionalista do Iluminismo.
A
paixão é um estado superior de desejo. Provoca reações químicas e perda de
apetite. Faz com que a gente projete uma vida inteira de felicidade pelo fogo
de uma noite de descoberta. A realidade é substituída por um estado de obsessão.
Nem
toda paixão é ligada a relacionamento. Podemos nos apaixonar por um time de
futebol, por uma causa, um hobby. Alguém
que mata por ciúme, comete um crime de paixão.
Na filosofia, é usada para se
referir a estados emocionais às vezes perigosos como a raiva, a ganância, a
cobiça, a luxúria. É o que nos move quando a razão termina.
Segundo
a Wikipédia, a paixão é uma patologia amorosa, um superlativo fantasioso da
realidade sobre o outro, tendo em vista que o indivíduo apaixonado se funde no
outro, ou seja, perde a sua individualidade, que só é resgatada quando na
presença do outro.
Segundo
a psicóloga Donatella Marazziti, a paixão começa em duas bolinhas nervosas
cinzentas de dois centímetros de diâmetro cada uma no interior de nossas
têmporas.
É a amídala cerebral, uma espécie de usina de instintos, ligada ao
sexo e à agressividade.
Essas
bolinhas produzem tempestades de impulsos agressivos. Para neutralizar essa
fúria, se apresenta a serotonina. Quanto menor o índice de serotonina, mais
ficamos próximos de um transtorno obsessivo-compulsivo, o famoso TOC. O efeito
é semelhante ao provocado pela cocaína. Queremos mais e mais e mais.
Segundo
pesquisas, a paixão dura de 18 a 30 meses. Média de dois anos. A doutora Ana
Luisa Miranda Vilela aponta outros elementos químicos como a feniletilamina, a
dopamina e a ocitocina, como drogas que nos deixam apaixonados. Até que o corpo
adquire resistência. E a paixão reflui junto com o fim desse coquetel químico.
A
paixão é movida pelos sentidos: sentimos na pele, vemos a beleza, saboreamos
seu beijo, gravamos seu cheiro. Mas a evolução humana deu cada vez mais espaço
a manifestações mais sutis e subjetivas da atração.
A
convergência de pensamentos, a construção da confiança mútua, a sintonia da
vibração individual. É aí que a paixão vira amor de verdade. A
paixão é um estado de loucura normal, convivível. O passional mata sem matar. Ele
retira do objeto de sua paixão as características reais e as substitui por suas
projeções.
Mas isso tem um limite de ação não muito preciso. Quem passa desse limite
comete o chamado crime passional. E vai parar no hospital ou na delegacia.
A
paixão passa a ser loucura quando a pessoa começa a caminhar fora da realidade
e ter fantasias. Às vezes perigosas.
Quem
não tem paixão nenhuma é um doente para si próprio.
O medo de um descontrole
emocional faz com que ele se reprima tanto que passa a sofrer de fenômenos
conversivos (antes chamados de psicossomáticos): dores de cabeça, hipertensão
etc. além de ter uma pobreza vivencial muito grande.
Uma
vida sem paixão não é exatamente uma vida. Uma existência sem risco, sem
impulsos, sem prazeres acontece para muitos caras. Eles surgem e somem sem
deixar traços.
A
paixão é, sim, o caminho para a loucura, para o suicídio, para o ridículo. Mas é
também o atalho para a glória, para o sucesso e para a felicidade. Viver,
afinal, é perigoso.
A
vida é uma mesa de pôquer. Só leva o grande prêmio quem aposta nele.
Fonte: Men's Health, 07/2012.
Dedico esse post ao meu amigo Fabio.
Beijos
nos pés!