
Obrigado
a todos que tem acompanhado as minhas peregrinações semanais e desejo um ótimo
2013 para vocês!
A
canseira de fim de ano me deixou baqueado. No sábado levantei depois das nove
da manhã. Decidi ir para Sampa, mas não sabia para onde ia. Depois de tomar
banho, comer e me arrumar, me mandei para a parada.
O
verão chegou e novamente muitas pernas peludas de fora. Tomei o busão e fui em
pé. Quando entrei, avistei logo na catraca, dois carinhas sentados junto do
trocador. Um usava bermuda e chinelo e o outro bermuda e tênis.
Quando
desci para pegar o outro ônibus para a estação de trem, percebi como eram
gostosinhos os carinhas. Fui em pé novamente, mas percebi que eles conseguiram
ir sentados. Fui em pé perto da janela, tomando vento na cara.
O dia estava
muito quente. Quase desisti de ir. Ainda bem que quando chegou na estação do
trem, o tempo virou e começou a chover. Quanto mais me aproximava de Sampa,
mais chovia.
A
viagem foi demorada e o trem estava cheio. Fui lendo uma revista e escutando
uma musiquinha de rock paulera.
Depois
que cheguei na Barra Funda, decidi ir no West Plaza. Passei na livraria e
comprei uma revista e a primeira temporada do “Força Tarefa” onde tem o gato do
Murilo Benício. Decidi que vou assistir os filmes e seriados pela internet, mas
como esse estava em promoção, resolvi comprar. Quero ter em casa para sempre! Já
que não posso ter o pezão do Murilo mesmo!
Depois
andei por lojas de sapatos para comprar um sapato novo para mim, porque estou
precisando. Mas não encontrei. Achei um do meu gosto em minha cidade e vou
comprar lá mesmo. A marca é difícil de encontrar.
Visitei
lojas de roupas para comprar alguma coisa, mas não gostei de nada. Quem sabe
depois do fim de ano, não aparece alguma coisa em liquidação que me agrade.
Então
me mandei para a Livraria Cultura. Vi muitas pernas e pés bonitos. Queria ter
fotografado alguns, mas não deu. Tinha bastante gente e às vezes chegava a
esbarrar nas pessoas nos corredores dos livros. Dei uma conferida nos filmes e
seriados. E olhei alguns CDs novos de punk e heavy metal. Não comprei nada.
Fui
em algumas lojas em busca do meu sapato, mas nada de encontrar o que eu queria.
Sou chato para comprar sapato. Roupa eu até uso dos outros, mas sapato tenho
muita dificuldade de encontrar do meu gosto.
Depois
de muito bater perna, me mandei para a Barra Funda. Tomei o trem lotado. Não
deu nem para olhar as pernas dos caras porque o vagão estava cheio de gente.
Quando
cheguei em minha cidade, tomei o busão para minha casa. Fui do lado de um coroa
de bermuda, mas não deu para esfregar minhas pernas na dele. Não estava muito
afim, então não fiz nenhum esforço para relar nele.
Quando
desci na parada da minha casa, olhei para o fundo e o carinha de pernas peludas
estava me olhando. 


Estava com fone de ouvido, mas escutei o
vendedor perguntando para o carinha que estava sentado experimentando um
sapato, sobre o que ele fazia. O cara não quis responder.
O vendedor disse que
se ele andasse muito, que aquele sapato era o melhor. O carinha era um gordinho
de pele morena clara, calçava uns 42.
Reparei que o vendedor ficou o tempo todo
ajoelhado. Que tesão deve ser passar o dia todo se ajoelhando diante pés
masculinos. Apesar do cara estar de meia, seus pés eram bem gordinhos. Baita solão
largo.
Passei
numa loja e comprei dois cremes para os pés. Experimentei o exfoliante e fiquei
com os pés bem macios. Pareciam de bebês.
Vi
muitos pezinhos lindos. Principalmente pernas grossas e peludas. Vi um casal de
gays com um baita pernão. Imaginei a deliciosa esfregada de pés que deveriam
dar em seu leito nupcial.
Enquanto
estava na fila, avistei um carinha que trabalha na área de atendimento. Certa vez,
quando comprei um eletrodoméstico, precisei ir lá para testar. Enquanto ele me atendia, o pai ligou três vezes. Lembro que comentei com ele que alguns pais às vezes agem como se os filhos fossem crianças e ele deu risada. 
Ele passou do outro lado da calçava e ficou me olhando enquanto
passava. Eu estava com as mãos ocupadas. Pensei até em acenar para ele, mas
ficamos apenas nos olhando. Pensei que fosse me comer com os olhos. Aquele olhar
43.
Resolvi fazer cachorro
quente, pois não tinha almoçado ainda. Fazia meses que não comia um cachorro
quente tão delicioso. Só que comi com pão integral. No lugar da maionese,
coloquei requeijão. Depois fiquei um pouco na internet e aproveitei para
assistir MTV. Passava um especial com a Gaby Amarantos.

Com base no filme “Não gosto dos meninos”, vou fazer aqui um desabafo com relação a tudo o que vivi. Apesar de ter sido criado numa religião, ter princípios, ter estudado em colégio de padres, sempre fui criado para depois de crescer, constituir uma família com esposa e filhos. Apesar da minha criação, nunca senti essa necessidade.
Tive muitos conflitos existenciais. Pedia a Deus para tirar esses pensamentos de dentro de mim, mas nada acontecia. Continuava a gostar de homens.
Mesmo antes de sentir atração sexual, já me sentia diferente. Eu me sentia estranho e isso me causava mal estar. Negava como era, não me aceitava e queria mudar a qualquer custo.
Achava que era uma fase e que um dia fosse passar. Mas nunca passou. Sofri torturas psicológicas, comentários, bullying. Para evitar retaliações, preferia me isolar como faço até hoje.
O
medo da rejeição, me fez demorar para contar para minha mãe. Lembro que já
estava com uns 19 anos e contei para ela na roleta da estação do metrô, bem no
horário de pico. Achei que se contasse diante um público imenso, talvez fosse
mais fácil para mim e para ela. Fiquei com medo de sofrer retaliação por parte
dela, mas ela entendeu.
Os
pais na verdade quase sempre sabem da nossa opção. Não tem como esconder isso
deles. Ela
disse que quando eu era pequeno, havia pego o sapato de salto alto dela e saído no
meio da rua. Queria chamar a atenção de qualquer jeito. Contou que eu gostava de bonecas. Isso eu me lembro. Outra coisa que
me lembro, é que odiava jogar futebol. As aulas de Educação Física eram
torturantes. Tinha que jogar bola para não ser chamado de viadinho.
Depois quando cheguei na puberdade, meu pai percebeu o erro que tinha feito a mim. Mas já era tarde demais. Nos últimos anos de vida dele, por mais que ele tentasse recuperar o tempo perdido, a mágoa que ficou dentro de mim não permitia que eu o aceitasse. Viviamos como dois estranhos. Quase não falava com ele.
Quando meu pai morreu, infelizmente não consegui sentir NADA. Sofri por
causa do sofrimento da minha mãe. O
maior medo dos pais é de sermos agredidos na rua. Mas também da vergonha que
passam. A grande maioria dos pais se perguntam, o que fizeram de errado na
criação do filho para ele ser desse jeito.
Logo
que meu pai morreu, sai de casa. Todos foram contra. Minha mãe me apoiou porque
morei um tempo com um casal de amigos dela. Mesmo assim, meus parentes achavam que eu fosse cair
na vida.
Drogas,
baladas dia e noite, noites sem dormir. Achavam que eu fosse desandar na vida. Infelizmente,
sinto que minha mãe não tem orgulho de mim, apesar de eu fazer tudo por ela. Nunca
escondi da minha família, mas também não me abri pra ninguém.
Dias
atrás, minha irmã contou para minha mãe que descobriu que um colega seu tinha
virado gay. Ela disse que não entendia como um garoto que tinha estudado a vida
toda com ela, com jeito de homem, estudado em escola particular, havia se
tornado gay.
Sei
que quando escondemos algo, ajuda a manter o preconceito, como se isso não
fosse normal. Mas por enquanto, me sinto melhor assim. Meus parentes são muitos preconceituosos. Não sei se vou aguentar mais rejeição por parte deles. Por
mais que tenha tentado namorar com mulheres, sempre senti atração por homens,
desde bem pequeno.
Lembro da minha paixão por um amigo quando tinha 6 anos de
idade. Descobri esses dias que ele se separou. Se soubesse que teria alguma
chance com ele, iria correndo para os seus braços.

A
falta de modelo e referência trás muita tristeza para nós. Acho que meu amiguinho,
o filho da juíza, era gay. Por isso me dava tão bem com ele. Nunca falávamos
sobre isso, porque éramos muito novinhos. Tínhamos entre dez e doze anos. Pena que
perdi o contato com ele.
Se
aceitar e não ter vergonha de falar o que sente. Se
assumir para você mesmo, fica tudo mais fácil. Problema é de quem não gostar. Não
precisamos ser iguais aos outros, e sim, nós mesmos.
A
minha diferença é que incomodava os outros. Não
devemos nos sentir culpados ou com peso na consciência. E nunca enfrentar isso
como se fosse um problema. O problema está no preconceito das outras pessoas. O
problema está nos outros que não entendem e não me aceitam como sou, pois
gostariam que eu fosse do jeito deles.
Não
somos coitadinhos.
Segundo
os depoimentos, não devemos ter vergonha de si mesmo.