segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Sem-teto

Sempre que dá, vou ao restaurante Bom Prato da minha cidade para encher a pança por apenas um real. Dias atrás, enquanto esperava na fila, um sem-teto me pediu para pagar o almoço. Sempre que tenho dinheiro eu pago. 

Enquanto esperávamos, troquei ideia com o sem-teto que tinha vindo de Campinas, juntamente com o seu primo e mais a esposa. Ele me disse que dormia numa praça ali perto. 

Reparei que estava com roupas sujas e seu tênis estava com um baita rasgo na parte da frente. 

Então combinei com ele que iria levar algumas coisas que tinha para ele.

Aproveitei que estou fazendo uma limpeza geral na minha casa, e separei dois tênis em ótimo estado e algumas camisas, bermudas e um cobertor. Minha mãe aproveitou e separou mais uma sacola de alimentos e algumas roupas de mulher.

No dia combinado, passei no restaurante, mas o cara não estava lá. Deixei a sacola com um peso danado e fui em busca do sem-teto. Chegando na praça, encontrei um carinha deitado em um colchão e se cobria com um cobertor bem sujo. 

Seus pés brancos estavam sujos, mas a sola parecia bem macia. Esse só precisava de um bom banho. 

Depois conversei com alguns outros descamisados que me disseram que ele tinha subido o morro, não sei para quê.

Enquanto perguntava pelo carinha, os dois descamisados pediram para eu pagar um lanche para eles. Disse que pagava o almoço se eles quisessem. 

Mas insistiram para eu pagar o lanche e acabei indo embora para o restaurante. Chegando lá, notei que eles estavam atrás de mim e perguntaram se eu iria pagar o almoço. Aí eu paguei a moça e eles foram comer. 

Conversei com o segurança para ele guardar minha sacola por mais um tempo. E acabei voltando para a praça. Enquanto esperava, se aproximou uma senhora com um rapaz de uns vinte e poucos anos pedindo alguma ajuda. 

Pensei em dar minha sacola para eles, mas quando ia me dirigindo para o restaurante para pegar a sacola, reparei que ela tinha uma sacola de compras e tinha um pacote de fraldas descartáveis. 

Usava uma bolsa de marca e não era tão coitada assim! Então disse que iria esperar pelo cara mais um pouco, e que se ele não viesse, eu daria as coisas para ela. Ela acabou desistindo de esperar.

Depois disso, me sentei em um banco da praça, e um motorista de táxi começou a puxar conversa. Ele disse que tinha muito sem-teto que só se aproveitava das pessoas, e enquanto conversávamos, juntou seis sem-tetos e começaram a fumar maconha. 

O cara disse que eles iriam trocar minhas coisas por baseado, e acabei ficando desanimado, porque queria realmente ajudar o sem-teto.

Voltei para o restaurante e contei para o segurança o que tinha acontecido. Então ele me disse para eu não dar nada e doar tudo na igreja. 

Perdi as esperanças de encontrar o sem-teto de Campinas e acabei voltando com a sacola que estava bem pesada. Acabei doando para um colega do trabalho que faz doação para comunidades carentes, compostas por nordestinos.

Apesar de não ter ajudado o sem-teto de Campinas, acabei ajudando outras pessoas da comunidade em que moro.


Essa semana vou doar alguns livros para a biblioteca da escola do bairro, e um monte de revistas para um catador que faz reciclagem.


De qualquer maneira me senti mais aliviado.


Beijos nos pés!


segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Orações para Bobby

Posterguei o máximo que pude para assistir Orações para Bobby, pois sabia que o filme iria ser bem triste. Encharquei minha camisa de tanto chorar. 

O filme lembrou todas as minhas agruras que passei na vida com a minha família.
Quando eu era bem pequeno, uns cinco anos, minha mãe chegou em casa e eu tinha colocado o sapato de salto alto dela e tinha ido para o meio da rua. 

Ela estava acompanhada de uma amiga que era psicóloga que disse para eu fazer um tratamento com um neurologista, pois eu tinha distúrbio de comportamento.

Até hoje me lembro que era um consultório bem pequeno, que ficava entre minha casa e a igreja que nós íamos. O médico perguntava coisas e mandava eu desenhar. 

Conversei esses dias sobre o que o médico dizia, mas ela desconversou sobre o assunto.
Disse apenas que eu tinha problema de relacionamento com as outras crianças.

O que eu me lembro, é que eu me recusava em jogar bola e os meus coleguinhas me chamavam de bicha. Por causa disso, tinha muita dificuldade em ter amiguinhos, pois ficava estigmatizado por ser chamado disso.

Lembro certa vez que meu pai foi levar minha mãe em um curso, e apareceu um colega dela que era gay. Nunca esqueci que quando minha mãe viu ele, ela virou e disse para mim que ele era bicha louca. Me deu uma vontade de dizer para ela que os colegas também me chamavam assim! 

Minha mãe tinha e tem muito preconceito e acabou pagando com a língua.
Lembro que minha cama tinha um monte de bichinhos de pelúcia e gostava de pendurar gravuras de desenhos que eu pintava. 

Enquanto meu irmão tinha apenas uma tartaruguinha.

Sofri muito preconceito e bullying pelo fato de não jogar bola. Era considerado sempre o gayzinho, e para não me sentir sozinho, ficava com alguma menina. Isso começou a acontecer no quarto ano.

Lembro até hoje que a menina se chamava Claudia. Dancei na Festa Junina com ela. Quando sai da escola católica e fui para a protestante, arrumei amiguinhos do mesmo sexo que eu. Essa fase durou três anos.

Quando fui para o oitavo ano, entrei na puberdade e acabei tendo um pouco de dificuldade em fazer amizade. 

Lembro apenas que trocava ideia com os renegados da minha sala de aula. Um usava droga e quase levou um colega a se matar de overdose. E o outro era anão.
Assim como a mãe de Bobby, minha mãe também tinha táticas para eu não me desvirtuar do caminho que ela achava o correto. 

Depois que entrei na puberdade, ela fazia marcação cerrada com relação as minhas amizades. Proibia de eu fazer amizade com colegas da escola ou do prédio em que morava. 

Os meninos iam me chamar para brincar, mas era em vão. Minha mãe só não proibia os irmãos da igreja. Foi quando fundei O Quarteto. Mesmo assim minha mãe ficava na minha cola, e olha que nem existia celular nessa época. 

Íamos na igreja três vezes por semana, e nos outros dias estudávamos em casa. A programação da TV era selecionada e me divertia apenas com músicas do rádio. O computador era usado apenas pelo meu irmão, que só fazia jogar vídeo game.

Depois que saí de casa, ainda na adolescência, penei muito até conseguir arrumar um emprego para poder pagar uma edícula e poder viver sossegado minha vida.  

Depois de um tempo voltei a morar com minha mãe porque não conseguia pagar a faculdade e o aluguel ao mesmo tempo. Entrei em depressão por que minha mãe ainda enchia o meu saco com relação a minha escolha. 

Então novamente me submeti a um tratamento no Hospital das Clínicas de São Paulo, com uma psiquiatra. Minha mãe sempre estava presente nas sessões e não tinha como pedir socorro da médica. Até que um dia a médica falou na cara da minha mãe que eu não tinha nada e que não devia voltar mais lá. 

Só faltou dizer para ela que o meu problema não tinha cura. Apesar que a médica não achava que o fato de eu ser gay era um problema.

Tempos atrás, perguntei para minha mãe se ela achava melhor um filho drogado, beberrão, que bate em mulher, ou um gay. Ela deu a entender que preferia o drogado mesmo.

Assisti em um Caso de Família, uma moça que queria apenas um abraço verdadeiro da mãe e que queria ser amada. No fim do programa, a mãe abraçou a filha muito a contragosto, porque estava em frente das câmeras, e porque o auditório insistiu para ela abraçar a filha. 

Mas a psicóloga que acompanhava o caso, disse que ela precisava aprender a conviver com o fato de a mãe não gostar dela. “Ninguém é obrigado a gostar de ninguém, mesmo que seja mãe”. 

A psicóloga disse que ela precisava tentar superar isso. Isso é que eu tento fazer com minha mãe. Certa vez ela perguntou se eu me sentia amado, e lembro que respondi que não. Isso faz muitos anos.

Por mais que eu faça tudo por minha mãe, ainda não consigo me sentir amado. Sinto muito por não ser o filho que ela esperasse que eu fosse. 

Por mais que me reprima e aceite morar junto dela com todas as suas exigências, ainda assim serei sempre uma bicha que gosta de homens e pés masculinos.

Na medida do possível, tento sobreviver a esse mundo preconceituoso. 

Pena que o Bobby não teve a mesma chance.

Beijos nos pés!


segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Show de Street Punk


Com o fim da MTV na TV aberta, estou indo dormir cedo quase todos os dias. Então no sábado, levantei cedo para ir para minha maratona de ônibus, trem e metrô, mas acabei fazendo hora da internet.

Acabei tomando o busão atrasado e demorei muito no terminal do bairro esperando o Expresso.

Quando cheguei na estação de trem, o vagão logo chegou. A viagem foi tranquila e deu para eu ir escutando minhas músicas de heavy metal e lendo uma revista. A viagem aumentou porque criaram uma estação nova chamada Vila Aurora.

De qualquer maneira a viagem foi bem tranquila. Chegando na Barra Funda, fui direto para o Shopping West Plaza para comprar água e coisas para comer. Depois me mandei para a livraria para conferir as novidades. 

Tinha algumas séries em promoção, mas acabei comprando apenas duas revistas. Depois me mandei para o Shopping Bourbon. Passei no mercado e depois fui para a Livraria Cultura. Conferi as novidades dos livros e dei uma passada pelas galerias de CDs. 

Enquanto ouvia um CD, se aproximou um carinha de pernas bem grosas e peludas. Era um morenaço com um pezão 44. Pena que estava de tênis.

Acabei não indo assistir nenhum filme e depois me mandei a pé até a República. Passei pelo parque da Água Branca. Muita gente por causa do dia das crianças. Passei por uma ponte que estava fechada por causa de uma maratona de rua que iria ter ali a noite.

Foi uma longa caminhada, mas a tarde estava muito boa para caminhar. Estava o tempo nublado e o termômetro marcava 24ºC. Como tinha passado protetor solar, fiquei despreocupado. Quando cheguei na República, passei no Cine Marabá para conferir o filme de terror que tinha estreado. 

Mas o filme era dublado e tinha uma fila enorme. Então acabei indo assistir o Rock na Vitrine.

Chegando lá, já tinha começado a apresentação da banda chamada oSKArface. Pena que não deu para ver desde o início. Quando acabou a apresentação, algumas pessoas foram embora, mas logo entrou outras pessoas. Cada banda tem o seu fã clube.

A outra banda se chamava Super Chaiz (aí ao lado). Os carinhas eram bem bonitinhos. O baixista era branco de olhos azuis. Tinha um pouco de excesso de gostosura. 

Tinhas os antebraços bem peludos. Fiquei hipnotizado com o cara. Depois ele veio cumprimentar uns amigos na platéia, e comprovei que o carinha era demais! Nessa foto aí ao lado ele está cabeludo.

Quando o show acabou, muita gente foi embora. Fiquei muito decepcionado. Mas graças a Deus, a outra banda que entrou tinha um fã clube fiel. A maioria tinha a cabeça raspada e tatuagens, tipo skinhead. A banda se chamava W.A.C.K. (We Are All Cockney Kids).

Quando o show começou, fiquei todo arrepiado. Tive que ir para próximo do palco. Não resisti e acabei filmando um pouquinho. Não sei se vai agradar a todos, mas eu adorei a banda. O som foi irado demais! Espero que gostem! Nem acredito que estava em um show lotado de skinheads. 

Fiquei com vontade de filmar o show inteiro, mas não sei se podia. De qualquer modo, vou tentar acompanhar essa banda de perto. Foi o melhor show que assisti na Galeria Olido.

Depois fui para a estação de metrô para fazer minha maratona de volta para casa. O trem não estava cheio e deu para eu ir em um canto sentado no chão e lendo minha revista.

Quando cheguei em minha cidade, já estava 20ºC. Tomei dois busões até chegar em casa. Depois fui tomar banho, comi e fui assistir um filme do Antonio Banderas chamado Vem Dançar. Acabou depois da uma da manhã. Aí fui dormir pensando nos skinheads. Ainda bem que ninguém quis me espancar.

Beijos nos pés!

Vídeo da Banda Super Chaiz 
(vejam como o baixista é lindo!)


Vídeo filmado por mim da 
Banda W.A.C.K. (We Are All Cockney Kids)