Posterguei o máximo que pude para assistir Orações para Bobby, pois
sabia que o filme iria ser bem triste. Encharquei minha camisa de tanto chorar.
Quando eu era bem pequeno, uns cinco anos, minha mãe chegou em casa e eu
tinha colocado o sapato de salto alto dela e tinha ido para o meio da rua.
Ela estava
acompanhada de uma amiga que era psicóloga que disse para eu fazer
um tratamento com um neurologista, pois eu tinha distúrbio de comportamento.

Conversei esses dias sobre o que o médico dizia, mas ela desconversou
sobre o assunto.
Disse apenas que eu tinha problema de relacionamento com as outras
crianças.

Lembro certa vez que meu pai foi levar minha mãe em um curso, e apareceu
um colega dela que era gay. Nunca esqueci que quando minha mãe viu ele, ela
virou e disse para mim que ele era bicha louca. Me deu uma vontade de dizer
para ela que os colegas também me chamavam assim!
Lembro que minha cama tinha um monte de bichinhos de pelúcia e gostava
de pendurar gravuras de desenhos que eu pintava.
Enquanto meu irmão tinha
apenas uma tartaruguinha.
Sofri muito preconceito e bullying pelo fato de não jogar bola. Era considerado
sempre o gayzinho, e para não me sentir sozinho, ficava com alguma menina. Isso começou a acontecer no quarto ano.
Lembro até hoje que a menina se chamava Claudia. Dancei na Festa Junina com ela. Quando sai da escola católica e fui
para a protestante, arrumei amiguinhos do mesmo sexo que eu. Essa fase durou três anos.
Quando fui para o oitavo ano, entrei na puberdade e acabei tendo um
pouco de dificuldade em fazer amizade.
Lembro apenas que trocava ideia com os
renegados da minha sala de aula. Um usava droga e quase levou um colega a se
matar de overdose. E o outro era anão.
Assim como a mãe de Bobby, minha mãe também tinha táticas para eu não me
desvirtuar do caminho que ela achava o correto.
Depois que entrei na puberdade,
ela fazia marcação cerrada com relação as minhas amizades. Proibia de eu fazer
amizade com colegas da escola ou do prédio em que morava.




Então novamente
me submeti a um tratamento no Hospital das Clínicas de São Paulo, com uma psiquiatra.
Minha mãe sempre estava presente nas sessões e não tinha como pedir socorro da médica. Até que
um dia a médica falou na cara da minha mãe que eu não tinha nada e que não devia
voltar mais lá.
Só faltou dizer para ela que o meu problema não tinha cura. Apesar
que a médica não achava que o fato de eu ser gay era um problema.

Assisti em um Caso de Família, uma moça que queria apenas um abraço verdadeiro
da mãe e que queria ser amada. No fim do programa, a mãe abraçou a filha
muito a contragosto, porque estava em frente das câmeras, e porque o auditório
insistiu para ela abraçar a filha.




Pena
que o Bobby não teve a mesma chance.
Beijos nos pés!
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