Sempre que dá, vou ao restaurante Bom Prato da minha cidade para encher
a pança por apenas um real. Dias atrás, enquanto esperava na fila, um sem-teto
me pediu para pagar o almoço. Sempre que tenho dinheiro eu pago.
Enquanto esperávamos,
troquei ideia com o sem-teto que tinha vindo de Campinas, juntamente com o seu
primo e mais a esposa. Ele me disse que dormia numa praça ali perto.
Então combinei com ele que iria levar algumas coisas que tinha para
ele.
Aproveitei que estou fazendo uma limpeza geral na minha casa, e separei
dois tênis em ótimo estado e algumas camisas, bermudas e um cobertor. Minha mãe
aproveitou e separou mais uma sacola de alimentos e algumas roupas de mulher.
No dia combinado, passei no restaurante, mas o cara não estava lá. Deixei
a sacola com um peso danado e fui em busca do sem-teto. Chegando na praça,
encontrei um carinha deitado em um colchão e se cobria com um cobertor bem sujo.
Depois conversei com alguns outros descamisados que me disseram que ele tinha subido o
morro, não sei para quê.
Enquanto perguntava pelo carinha, os dois descamisados pediram para eu
pagar um lanche para eles. Disse que pagava o almoço se eles quisessem.
Mas insistiram
para eu pagar o lanche e acabei indo embora para o restaurante. Chegando lá,
notei que eles estavam atrás de mim e perguntaram se eu iria pagar o almoço. Aí
eu paguei a moça e eles foram comer.
Conversei com o segurança para ele guardar
minha sacola por mais um tempo. E acabei voltando para a praça. Enquanto esperava,
se aproximou uma senhora com um rapaz de uns vinte e poucos anos pedindo alguma
ajuda.
Pensei em dar minha sacola para eles, mas quando ia me dirigindo para o
restaurante para pegar a sacola, reparei que ela tinha uma sacola de compras e
tinha um pacote de fraldas descartáveis.
Usava uma bolsa de marca e não era tão
coitada assim! Então disse que iria esperar pelo cara mais um pouco, e que se ele não
viesse, eu daria as coisas para ela. Ela acabou desistindo de esperar.
Depois disso, me sentei em um banco da praça, e um motorista de táxi
começou a puxar conversa. Ele disse que tinha muito sem-teto que só se
aproveitava das pessoas, e enquanto conversávamos, juntou seis sem-tetos e
começaram a fumar maconha.
O cara disse que eles iriam trocar minhas coisas por
baseado, e acabei ficando desanimado, porque queria realmente ajudar o sem-teto.
Voltei para o restaurante e contei para o segurança o que tinha
acontecido. Então ele me disse para eu não dar nada e doar tudo na igreja.
Perdi
as esperanças de encontrar o sem-teto de Campinas e acabei voltando com a
sacola que estava bem pesada. Acabei doando para um colega do trabalho que faz
doação para comunidades carentes, compostas por nordestinos.
Apesar de não ter ajudado o sem-teto de Campinas, acabei ajudando outras
pessoas da comunidade em que moro.
Essa semana vou doar alguns livros para a biblioteca da escola do
bairro, e um monte de revistas para um catador que faz reciclagem.
De qualquer maneira me senti mais aliviado.
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